27 de setembro de 2007

A PENSÃO PODRAÇA QUE ME ABRIGOU DURANTE DUAS SEMANAS QUANDO CHEGUEI EM BRASÍLIA

Boi Zé, forasteiros. Quando cheguei aqui em BARRÍLIA - DF foi o CAOS. Primeiramente hospedei-me na quitinete de um filho duma amiga da minha mãe. Foi péssimo, não tínhamos nenhuma afinidade, em duas semanas rolou DESRESPEITO RECÍPROCO, me mandou tomar no cu. Chamei o moço pra PORRADA e fui delicadamente expulso. Tive que morar numa PENSÃO PODRAÇA da DIABO3-SUL. Só da minha estadia rendem muitos CARACTERES. Uia:

O dono era um sexagenário pinguço seqüeladão, a sua memória era digna de roteiro de COMÉDIA DA SESSÃO DA TARDE. Bahiano, curimbeiro & cachaceiro, só usava um SHORTÃO DE ÍNDIO e uma camisa puída & encardida do VASCOCÔ. Sir Nelson tinha uma filha adolescente duns 16/17 anos. Comestível, a menos que eu quisesse cumprir etapa numa MASMORRA FÉTIDA & INFESTADA DE LATROCIDAS. Não, esse era um risco que não deveria correr. Ela cantando calypso era horroroso, isso me deu uma BROXADA CAMPEÃ. Os moradores eram todos figuraças decadentes, uns 10 no total.


-Sir Nelson, in desmemoriam.

CUCA FRESCA era o cara que veio do Acre, tinha ESMIGALHADO os dois pés num acidente, o mais equilibrado(apesar de mancar toscamente). Era barnabé da FNS(ex-SUCAN, essas paradas de matar mosquito) e tava de licença fazendo o 1º período de ADEVOGACIA, era assim que ele dizia. Nem lembro o nome dele, só sei que eu sempre roubava presunto DELE na geladeira. Ele reclamava e eu ainda dizia: "...que filho da puta, que audácia..."

O mais bizarro de todos era um magrelo, alto, meio CACUNDA, de óculos FUNDIGARRAFA e oriundo do interior de Santa Catarina. Atendia pelo nome Fernando e trampava no Banco Real® na madruga fazendo compensação de depósitos/cheques/docs & etc. Quando sóbrio tomava conta da pensão, lavava louça, fazia comida (muito bom o rango do cara). Punha banca de moralista, que tinham que matar tudo quanto era maconheiro, baitôla e ladrão. Funcionava como a MEMÓRIA RAM de Sir Nelson, o velho pinguço sequelado dono da pensão e pai da ninfeta. Mas bastava ele tomar ½ dúzia de xicrinhas de (cana na xícara, mó requinte) que rolava a síndrome de Dr. Jekyll & Mr. Hyde, ficava agressivo, xarope, desbocado & chorão. Então, depois de meia hora já vazava incontinenti a pé pro CONIC(~5km) no setor comercial sul pra descolar um punhado de MERLA com alguma puta gorda & banguela para depois SUBMERGIR no fundo do poço.


-Fernando e sua xícrinha de cachaça. Powered by Merla.

Pra quem não sabe, merla é pior que CRÁQUE. Elaborada a partir da sobra do refino de COQUÊINE adicionada de decantador de piscina, ácido de bateria de carros, gesso, papel higiênico, pó químico de extintor de incêndio e mais uma infinidade de porcarias, tudo misturado e aquecido num BALDÃO plástico de manteiga. Fuma-se a pasta misturada com tabaco e/ou maconha. Ou se preferir, pode se PIPÁ-LA em cachimbos improvisados de tampa de garrafa pet com elemento de antena. Muito mais viciante do que qualquer outra droga, é motivo de muitos crimes e suicídios. Pelo menos o cara sossegava após o uso da bagaceira.

Tinha também uma pós-balzaca alcólatra, dizia-se corretora de imóveis e precursora do movimento PÂNQUE de Brasília. Mercedes sempre chegava no início da madruga, EXTREME LÓKI TERROR. Em sua bolsa nunca faltava uma garrafinha estilo granada CHEIDECANA. A marca era DUELO, e como sempre digo, este vem anexado de um DERROTADO. A família dela tinha posses, e preferia pagar a estadia dela a ter que conviver com mais um clichê desagradável. Teve um dia (à noite) que encheu tanto o saco que nem AMENAZAS de ligar pra mãe dela(senil) adiantaram. Então Sir Nelson teve atitude enérgica: BATEU PAVÃO na birita e ainda deu uma LINDA COÇA nela. Foi maneiro, cascudos & mocas na CAIXA DE CATARRO. Acho muito lindo bêbado chato ser agredido. Assisti ao espetáculo OMISSO, com um sorrisinho satânico nos BEIÇO. Isso por que sou CB (sangue bom), se fosse malvadinho pulava de DROPKICK na cachacenta, ela chorou copiosamente durante 45 min, até a rouquidão. Nem deu pra assistir. Soube que essa foi a primeira vez que isso aconteceu, talvez ele tenha se fiado no meu porte ESPARTANO & GALANTE.


-Mercedes e sua granada de Duelo®


O resto dos moradores só ia lá pra dormir. Aquele tipo de gente que puxa conversa sobre tempo, futebol, essas AMENIDADES IRRITANTES. E o pior: com sotaques bizarros, coisas do Deéfe. Tinha também um rapaz de 19/20 anos que era MICHET. O moleque parecia ser gente fina, trocamos idéia, fez até presença. Veio do interior do Tocantins, sotaque escrotaço: ÔXI!! Sir Nelson não gostava dele, não deixava o rapaz fazer KiNOJO® , “vai gastar o gás!”. Michel Michêt, vamos chamá-lo assim, prometia com olhar de Scarlet O'hara (aquela cena da fome) que quando saísse de lá daria um PREJÚ AMARGOSO pro velho. Levava a culpa de roubar o presunto do acreano manco. Até a VINGANÇA DO MICHÊT certamente eu estaria longe, meu plano seria de permanecer por no máximo duas semanas. E assim foi.

Odeio burocracia. Tudo que eu pagava pro velho tinha que ter recibo em duas vias, pois ele esquecia MESMO de tudo. Nos primeiros dias perguntava quem eu era várias vezes ao dia. Como fiz amizade com Fernando, o inquilino NOIADO que era de FIEL dele, pude ENGRUPIR umas três diárias tranqüilo e sem nem um MICROGRAMA de peso na consciência. Logo juntei minha tralha e levei pro loft que aluguei na parte BUKOWISKIANA da Asa Morte.

Todo forasteiro é traidor, inescrupuloso e desumano: desconfie e evite.

Esse é o espírito de Brasília.

E assim tem sido até hoje.


E é.



Existem fortes indícios de que desse texto foi gerada uma Graphic Novel que está em finalização, um artista louco me mandou e-mail e me pediu autorização para essa atrocidade. Os desenhos que ilustram o texto são meus esboços toscos e rápidos, o quadrinista me pediu para se situar melhor na descrição e roteirização da trama. Desenho muito melhor que isso, quem me conhece sabe que tenho múltiplos talentos. Sou péssimo em todos, nunca ganhei e jamais ganharei nenhum cruzeiro com isso. Nem scanner eu tenho, usei o do trampo. Compro o seu scanner por 50 reais, anuncie nos comments.