15 de abril de 2007

AMARGA RECOMPOSIÇÃO DE TIPOS*(repost 18.04.2006)


Pernóstico, não perde uma “cultural” 0800, meia-boca. Pega ninguém. Trabalha na fundação educacional. Professor desiludido com o “sistema”, mamando no Estado, sem coragem de sair. Fim de semana, vai pro gramado da Funarte. Pega ninguém. Socialismo quase-rapper. Tem preguiça de pensar. Pega ninguém.



Subempregado, vive escorado na mãe e nas irmãs. Faz pequenos favores dentro de casa para alimentar a dinâmica da exploração. No mesmo esquema de escambo e conquista que usa com as dodós, pegas meio às escondidas, nas quebradas distantes. Um dia, um cartão da C&A da irmã. No finde, o carro da mãe (“troca esse carro, mãe, carro é investimento”) com vergonha do velho Del Rey. No bar, ri do cotidiano de casado dos freqüentadores funcionários públicos – no contra-cheque, uma PA minguada. O vizinho “passou pra Câmara” – “Piauí fdp, cabeça-chata, deve ter algum peixe. Ou é filho bastardo de algum político”. Em decadência, cada vez mais isolado dos velhos conhecidos, fica putinho e fala mal dos cunhados, que não o chama pros churrascos.



Engravidou aos 17. Com 23, vive na casa dos pais criando desleixadamente o filho enjeitado – futuro cliente da boca da invasão do outro lado da BR. Assiste Ana Maria Braga de manhã – “podia vender uns bonequinhos de biscuit” – e Sônia Abrão à tarde – “o cabelo da Cléo Pires ficou massa”. Vez ou outra sai com o pai do menino. Expectativa - sexo sujo, explorada e jogada de lado – cachorro quente na volta – pé na bunda. A mãe fica sabendo pelos vizinhos logo na manhã seguinte. Briga doméstica. Auto-estima na sola da sandália clone comprada na feira. O velho vai pro bar jogar dominó. Remédio pra emagrecer vendido na TV. Vai à Universal. Muda os hábitos. E não é que melhora?



Veio do Paraná “servir o Exército”. “Racinha, esses nordestinos”. Com a seca, muda de opinião com as maranheses do forró que os recos freqüentam. Faz curso de mecânica na caserna. Acaba o tempo de serviço militar, vai trabalhar numa oficina. A mulher com dois guris. Tornou-se taciturno. Desmonta carros roubados.

*Humores, quem os entende?

Escrito pelo genial lúcio às 06h31